Em época de tremenda superficialidade, não é de se estranhar que, apesar de a língua ser totalmente metafórica, inclusive em contextos formais, o uso do "através" seja tão condenado por possuir o sentido de "atravessar": vivemos em uma época em que tudo é possível, desde que não "atravesse" nada ou ninguém: desde que seja superficial.
Eis assim, como sempre foi e há de ser, a língua como reflexo da sociedade: através dela - corrigiriam, por meio dela - revelam-se nossos maiores melindres: temos total liberdade de falar ou fazer tudo, desde que absolutamente nada seja alterado.
Evito discussões políticas, mas chegou a hora de confessar:
Concordo com a lógica de governar a favor de quem contribui financeiramente durante campanhas e mandatos políticos.
Afinal de contas, por mais generosas que sejam as contribuições espontâneas e despretensiosas dos grandes conglomerados econômicos, o contribuinte mais fiel, aquele que financia a campanha de todos os espectros políticos, aquele que rega de dinheiro esse solo em que se plantando tudo dá, a esse alguém chamamos povo. Esse alguém merece(RIA!) um mínimo de ROI (Return On Investment).
Faz tão frio que o dia se recolhe mais cedo. No limiar das seis da tarde, nem a luz do sol, nem o brilho da lua, apenas o isqueiro que acende a pequena vela pendurada ao lado da orquídea suspensa. A varanda é pequeníssima e nela me engrandeço, dobrado como um livro prestes a ser desvelado. Nem dentro nem fora do apartamento, apenas à parte. A pequena chama não acende lareira, nem lampião, tampouco um mísero cigarro, apenas acompanha o fugaz deslumbre que me aquece, me ilumina e me vicia: entre minhas mãos e meus olhos, fragmentos de Bernardo Soares, o intervalo pessoano entre ele-mesmo e seus heterônimos. Faz tão bem que eu me recolho mais inteiro.
Penso o mesmo =)
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